quarta-feira, 4 de abril de 2018

Ônibus 29 – Destino: Incerto



Às vezes tenho a sensação de andar em um grande e cheio ônibus de viagem, repleto de passageiros que exibem nas mãos seus bilhetes com destino certo. Eu entro e sento em um banco qualquer, sem saber ao certo qual o meu lugar, talvez com a ideia de tentar me encaixar em qualquer espaço vago naquele veículo que já tem quilometragem acima da média. Eu olho aquele espaço vago e tento me espremer, me esgueirar para olhar pela janela, tentando saber qual a rota seguida pelo motorista. Não consigo descobrir. Cheguei atrasada. Não sentei na janela, na verdade nem sei qual o meu lugar. Não tenho bilhete. Entrei por acaso no ônibus e não sei qual destino seguir. Sou conduzida pela multidão que se aperta entre dos bancos e corredores. Sou induzida a seguir viagem mesmo sem saber para onde ir, muito menos onde desembarcar.

Durante a viagem a sede aperta. Não tenho água. A fome chega e não há sequer um biscoito em minhas mãos. Não tenho bagagem. Não tenho nada. Nem ao menos sei por que motivo entrei no terminal rodoviário e escolhi esse ônibus. Dias depois todos que estão com seus bilhetes se preparam para descer em seus destinos, menos eu, que continuo sem saber o que fazer. Não sei para onde ir e depois de tantas viagens descubro que o endereço de partida está quase se apagando. O que mais me angustia é a sensação ansiosa de não saber qual será a imagem do ponto final. Não saber o local de desembarque e o que fazer após descer do ônibus me causa arrepios. Tento ler nos bilhetes alheios um sinal de familiaridade, mas só encontro coisas que não fazem o menor sentido. Olho novamente o bilhete do colega ao lado e tento me imaginar desembarcando em seu destino. Me imagino andando por aquelas ruas, vendo aquela paisagem, comprando casa, trabalhando e tendo uma vida naquele lugar. Me vejo feliz por um tempo, mas logo depois percebo que não há mais nada além de pura divagação. Minha imaginação mais uma vez me leva a outro destino, muito melhor que o primeiro. Lá o sol brilha mais, há mais cor e sabores inesquecíveis. Me vejo de frente para o mar e a água acariciando os meus pés. O sol esquenta percebo que não sou muito adepta ao verão, e minha pele concorda. Durante o trajeto minha mente se dispersa mais algumas vezes tentando se encaixar em cenários alheios sem obter sucesso.
O que fazer se não se sabe para onde vai? Onde desembarcar, afinal? Gostaria tanto de saber...

(continua...)