— Oi motorista. Cumprimento-o,
porém meus olhos permanecem fixos ao lado que vejo do lado fora.
— Oi, minha filha.
Apreciando a vista? Perguntou-me. Sou voz era tão mansa, acolhedora diria.
— Estou. Que lugar
bonito.
— Verdade. Passo por
aqui todos os dias, mas não canso de olhar.
Seguro-me no ferro de apoio ao passar por uma curva fechada,
e decido sentar-me no primeiro banco que está vazio.
— Sabe dizer se falta
muito para chegarmos ao destino?
— Vou fazer a primeira
parada agora. Depois, bem... Ponderou. —
O tempo da viagem é uma questão de perspectiva.
Meu coração se apressa em saltar dentro do peito ao ver a
parada de ônibus se aproximando. Todos os passageiros se aprontam e descer para
esticar as pernas, beber água ou usar o banheiro, menos eu. Após a última
pessoa deixar o veículo, pego minhas coisas e desço, querendo realmente algo
quente para comer e beber. O vento gelado da estação me recepciona, deixando
meu corpo em arrepios. Fecho o zíper do meu casaco e entro na pequena loja de conveniências.
O calor de seu interior contrasta com a temperatura de fora, e posso até dizer
que sentiria um leve abafamento em alguns minutos.
Sento-me sozinha próxima ao balcão principal. Folheio o
cardápio e vejo que nada é comum aos meus hábitos alimentares. Cada nome, cada ingrediente
é tão estranho, que diria estar sentada em uma lanchonete de outro país. Peço
um café com açúcar e leite e opto pelo que está na vitrine giratória que se assemelha
a um croissant.
Uma golada.
Sinto o café descer quente pela garganta. Que sensação
prazerosa!
O atendente sorri a me ver fechar os olhos e me deleitar
sobre um simples café com leite. Um senhor de meia idade, simpático e com olhar
meigo.
Outra golada, dessa vez acompanhada de uma mordida generosa
no salgado aparentemente morno.
— Queijo... Sussurro
feliz por não me surpreender com recheios exóticos. O senhor começa a limpar o
balcão, sem deixar de me observar comendo. —
Como eu amo queijo. Falei.
— Eu sei. Disse o senhor.
— Como você sabe?
Perguntei assustada. — Eu não disse nada
antes.
— Sei tudo sobre você,
minha filha.
— Desculpe, mas não
entendi.
Ele sorri e se afasta e segue até a cozinha. Olho em volta e
percebo que outras pessoas parecem tão felizes quanto eu ao saborear seus
pratos. Eles fecham os olhos e mordem avidamente seus sanduiches ou apressam-se
a terminar suas porções e caldos. Termino meu lanche, levanto e vou ao
banheiro. O perfume que me recepciona indica a limpeza do lugar, algo inusitado
para uma parada de ônibus. Lavo o rosto e as mãos após usar o banheiro e volto
ao salão principal.
Estranheza.
O local vazio me assusta.
Olha em volta e não vejo ninguém,
como se não estivesse cheio há poucos minutos atrás. Saio pela porta de vidro
em busca do Ônibus 29, e confirmo minhas suspeitas.
Fui deixada para trás.
(Continua)
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